"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA":UMA PROFUNDA METÁFORA
- Antonio Jose Silva
- há 4 dias
- 2 min de leitura

17/10/2025
PREAMBULANDO NA CEGUEIRA
Uma terrível "treva branca" vai deixando cegos, um a um, os habitantes de uma cidade. Com essa fantasia aterradora, Saramago nos obriga fechar os olhos físicos e ver, recuperar a lucidez, resgatar o afeto e a empatia: são as tarefas do escritor e de cada um de nós, diante da pressão desafiadora dos tempos e do que se perdeu. O Ensaio sobre a Cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar 'a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam'.
INCAPACIDADE DE VER E ENXERGAR
Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, é uma profunda metáfora sobre a cegueira espiritual, que se refere à incapacidade de "enxergar" a condição moral e ética da sociedade e, consequentemente, a sua própria humanidade. A epidemia de cegueira física que assola os personagens não é a principal tragédia, mas o catalisador que revela a verdadeira cegueira que já existia na sociedade.
A PERDA DA HUMANIDADE
Quando os valores éticos e a empatia se perdem, a sociedade regride a um estado primitivo, dominada pelo egoísmo e pela indiferença pelo sofrimento alheio. A obra questiona se a verdadeira tragédia é perder a visão ou já estar cego para a miséria e a desumanidade ao redor.
A EPIDEMIA COMO REVELAÇÃO
A epidemia força os personagens a confrontarem sua natureza mais íntima e suas vulnerabilidades. O caos gerado pelo colapso social não é uma novidade, mas uma intensificação dos comportamentos já existentes:
Egoísmo e individualismo: A luta pela sobrevivência faz com que os personagens ignorem as necessidades dos outros e priorizem apenas seus próprios interesses.
AS MAZELAS JÁ EXISTIAM
Decadência moral: O abandono da ética e a crueldade se manifestam na disputa por recursos básicos e na exploração dos mais fracos.
Indiferença: A falta de empatia se agrava, mostrando como a sociedade já era indiferente a problemas como a pobreza e a desigualdade, mesmo quando enxergava.
UMA GUIA ESPIRITUAL
A mulher do médico, a única que mantém a visão, representa a consciência espiritual em meio à cegueira. Ela se torna a guia, não porque possui um poder superior, mas porque escolhe assumir a "responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam".
Sua visão não a impede de sofrer e testemunhar a barbárie, mas permite que ela guie seu grupo e mantenha um resquício de ordem e humanidade. Ela não é uma figura divina, mas um farol que demonstra a importância da empatia e da consciência em tempos de escuridão moral.
A RECUPERAÇÃO DA VISÃO
Ao final da obra, a visão retorna de forma tão misteriosa quanto se perdeu. A cura, no entanto, não é um retorno ao passado, mas uma oportunidade para enxergar a realidade com uma nova perspectiva. Os personagens, que antes viviam em um mundo de objetos e aparências, agora podem ver a essência e a interconexão das coisas, após terem enfrentado a escuridão. Saramago sugere que, talvez, seja preciso a experiência da cegueira total para que se possa finalmente ver.
UM LEMBRETE PARA UM NOVO OLHAR
"Aquele que tem olhos de ver que veja, aqueles que tem ouvidos de ouvir que ouçam"
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